Primeiras últimas palavras


Carol Canabarro

Pensei em contar sua história, mostrar como Inez, através dos anos, aprendeu que sua única arma contra os reveses da vida era sorrir. Percebi ser injusto fazer isso em tão poucas linhas. Por certo, ela merece um livro. E ele virá.

Depois, cogitei descrever a despedida. Um dos momentos mais dolorosos e, paradoxalmente, lindos que vivi. Eternizar em palavras o conforto de ver tantas pessoas homenageando a mulher-luz por onde passou. Registrar as lágrimas sinceras, os abraços apertados, as lembranças doces, a singeleza de suas canções preferidas sendo tocadas e a convicção de uma saudade que jamais será superada. Ainda estou muito perto dessas emoções e as palavras saem entrecortadas.

Entrego as memórias ao tempo.

Escolho agradecer. Expressar minha gratidão pelo que minha mãe foi e sempre será. Aquela que ensinou a transformar dor em riso, que foi leal e constante para os familiares e amigos, e cedeu aos filhos as próprias asas para poderem desfrutar a liberdade.

Alguém que, por mais dura que tenha sido a vida, jamais se queixou. Resiliente, quase teimosa, a cada lapada desbravava um jeito de fazer os que estavam por perto voltar a se alegrar.

Até que cansou.

Ela que fez tanto por tantos, precisou de repouso. E, de mansinho, resistiu até que pudesse ter se despedido. Um almoço em família, o treino do sobrinho, os quarenta anos da filha, a escolha do presente de aniversário para o neto, o último baile.

Saiu da vida dormindo, serena. Com a tranquilidade de quem revidou a dor com amor e espalhou sementes de amizade que frutificarão para sempre. Como ela, não haverá mais ninguém. Inspirados em suas façanhas, somos muitos.


Agora, segue, mãezinha. Encontra tua paz na certeza de que você foi exemplo e que tua memória será sempre enaltecida. Te levarei tatuada no peito.

Nós somos, porque você é.

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Carol Canabarro

E-mail: carolinecanabarro@gmail.com

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